sábado, 8 de dezembro de 2007

Amar

Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

"Carlos Drummond de Andrade"

3 comentários:

Anónimo disse...

Teus lindos olhos,
vívidos e esplendentes,
espelham um íntimo
de majestade.
Encantam minha alegria
nos limites do ser feliz.

És valioso momento
da minha trajetória
mais que infinita.
Tens mel de mil sentidos
alma e corpo.
És Terra e Céu,
graça e talento
minutos que valem séculos.

Jovem é a eternidade
do teu charme,
Oh! doce e gostosa sedução!

Anónimo disse...

subscrevo os meus próprios comentários a alguns comentários poéticos dos posts anteriores... e até ao post "Obrigada"....

Anónimo disse...

ai ai Spice, estás má!
outro poeta ou o mesmo poeta? Sabias que também gosto muito de Carlos Drummond? Claro que naqueles treinos alucinantes não se podia falar de nada muito menos de poesia. mas surpreendes-me!