quinta-feira, 24 de abril de 2008

Aceitar a realidade...


Temos que deixar de acreditar que somos aquilo que não somos. Somos aquilo que existe em nós. E não aquilo que julgamos que deveríamos ser. Há que questionar o senso comum. Vivemos na ilusão de que seríamos mais felizes se tudo fosse diferente do que o que é e se conseguíssemos ter tudo aquilo com que sonhamos. Mas, se tivéssemos sempre aquilo que queríamos ter, depressa nos cansaríamos. E depressa desejaríamos que acontecesse algo de que não estávamos à espera. Quereríamos que a vida fosse mais imprevisível e aventureira. Ou seja, quereríamos que a vida fosse exactamente como ela é de facto. Deixaríamos de desejar ser perfeitos como deuses e seríamos como um deus feito homem de novo. E começaríamos a amar mais a nossa condição humana e o nosso ambiente, em vez de nos queixarmos tanto deles.

Ser uma pessoa com sorte, é isso mesmo. Quando aceitamos a realidade e nos deixamos ser o que somos, mais facilmente nos acontece o que de melhor nos pode acontecer. Se vivermos tentando construir uma teia com o propósito de caçar alguma mosca dourada, podemos até conseguir o que pretendemos. Mas, depois de toda a expectativa e ansiedade da espera, sentimo-nos normalmente descontentes com a nossa presa. E com inveja das pessoas que, ao nosso lado, sem fazerem esforço nenhum, conseguiram caçar uma mosca que lhes saberá muito melhor.

Podemos passar a vida a tentar organizá-la e discipliná-la e a construir teias, cada vez mais sofisticadas e cada vez visando presas mais valiosas. Podemos tentar ser mais ricos e encontrar a mulher ou o homem ideal. Mas essa necessidade de ganhar faz-nos perder a nossa inocência. Podemos facilmente perder a oportunidade de ter a sorte de encontrar quem ou o que na realidade nos tornaria realmente felizes.

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